CARNAUBAIS O cordão umbilical do poder: quando ex-gestores se recusam a sair de cena 15/12/2025 às 17:27

É recorrente, no cenário político brasileiro, a dificuldade de alguns líderes em aceitar o fim do próprio ciclo de poder. Ao deixar o cargo, não são poucos os que resistem a cortar o chamado “cordão umbilical” com a administração pública, agindo como se o apoio dado ao sucessor eleito lhes garantisse o direito de continuar mandando, ditando regras ou, no pior dos casos, interferindo diretamente na gestão. Trata-se de uma prática que fere o princípio básico da autonomia do mandato conferido pelo voto popular.
Essa lógica de tutela política transforma o apoio eleitoral em moeda de cobrança futura, distorcendo o sentido da democracia representativa. O governante eleito passa a ser visto não como autoridade legítima, mas como extensão de um projeto pessoal de quem deixou o poder. Quando isso ocorre, a gestão deixa de servir ao interesse público e passa a atender a interesses privados ou de grupos específicos, configurando ingerência política e administrativa.
No Vale do Açu, contudo, um movimento recente rompe com essa tradição. O atual prefeito de Carnaubais, Gleidson Benevides de Oliveira (Gleudinho), que contou com o apoio do grupo Diniz durante o processo eleitoral, optou por trilhar um caminho de independência política após assumir o mandato. A ruptura, ainda que previsível em contextos de afirmação de autoridade, desencadeou críticas e reações daqueles que, aparentemente, esperavam manter influência direta sobre as decisões do governo municipal.
O episódio revela um traço comum da política regional: a expectativa de que o eleito se torne mera “massa de manobra”, repetindo práticas de subordinação que se perpetuam em diversas cidades, onde ex-gestores tentam governar à distância para manter protagonismo e controle. Quando essa expectativa não se confirma, o discurso de apoio rapidamente cede lugar à crítica sistemática e à tentativa de deslegitimação.
A autonomia do prefeito, entretanto, não deve ser interpretada como ingratidão ou traição política, mas como exercício legítimo do mandato conferido pelas urnas. Governar exige responsabilidade institucional, coragem para romper amarras e compromisso com a população, não com tutores políticos. A maturidade democrática se constrói justamente quando o poder deixa de ser hereditário, personalista ou tutelado, e passa a respeitar os limites claros entre apoio eleitoral e governabilidade.
Nesse contexto, a crítica que hoje recai sobre quem escolhe governar com independência diz mais sobre a cultura política que resiste a mudanças do que sobre o gestor em si. Romper o cordão umbilical é, antes de tudo, um ato de respeito à democracia e à vontade popular.
Imagem: mossoroonline.com.br





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