ARTIGO Conversa Livre por Bosco Afonso: Sal potiguar, o gigante adormecido 13/11/2025 às 11:56

O Rio Grande do Norte carrega o honroso título de maior produtor de sal marinho do Brasil, fornecendo a maior parte do sal que chega à mesa e à indústria nacional. No entanto, se o sal grosso é o alicerce dessa economia, os subprodutos do sal marinho são, inegavelmente, o futuro com maior valor agregado – o “ouro branco” que o nosso estado ainda explora timidamente.

Já tratamos deste assunto aqui na coluna, mas é sempre bom relembrar que a situação da indústria salineira potiguar é um paradoxo: somos líderes em volume, mas subdesenvolvidos em diversificação e tecnologia. Enquanto a produção de cloreto de sódio segue forte, o alto potencial econômico das chamadas águas-mães – o resíduo líquido que sobra após a cristalização do sal – permanece majoritariamente inexplorado. Essas águas são ricas em minerais valiosos, como magnésio, potássio, bromo, e até mesmo lítio e outros sais raros, com aplicações cruciais em indústrias farmacêuticas, químicas, agrícolas e de alta tecnologia.

A história mostra que a chave para essa diversificação já foi, inclusive, identificada. Nos anos 1980, a extinta Companhia de Desenvolvimento Mineral do Rio Grande do Norte (CDM/RN) iniciou um trabalho visionário no parque salineiro da Henrique Lage Salineira, em Macau, com o notável Projeto Boro, focado justamente na exploração das águas-mães. Essa iniciativa pioneira, contudo, não prosperou em escala industrial.

Felizmente, a chama da pesquisa e desenvolvimento (P&D) não se apagou. As universidades federais do estado – notadamente a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em Natal, e a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA, em Mossoró – têm mantido vivos os estudos para viabilizar economicamente a extração e o beneficiamento desses subprodutos. Os laboratórios estão produzindo o know-how necessário.

A grande barreira, hoje, é a integração eficaz. É imperativo que a indústria salineira dê as mãos, de forma mais robusta, aos organismos públicos de pesquisa. A UFRN e a UFERSA já provaram que têm a capacidade científica. O setor produtivo precisa absorver esse conhecimento, investir em plantas-piloto e, finalmente, migrar de uma economia puramente extrativista de sal comum para uma bioeconomia mineral sofisticada e de alto retorno.

O Rio Grande do Norte tem todas as condições geográficas e intelectuais para deixar de ser apenas um “celeiro de sal” e se tornar um polo de tecnologia mineral avançada. O momento exige uma guinada estratégica: o sal marinho é o ponto de partida, mas os subprodutos são a verdadeira riqueza a ser conquistada. O futuro econômico do nosso litoral passa pela capacidade de transformar o resíduo das águas-mães no motor da nossa inovação industrial.

Animado Banner

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas

©2023 Blog do Wallacy Atlas. Todos os direitos reservados.