22 janeiro de 2016 Macau, o MP e o absurdo que representa o fim do Carnaval

Quem é de Macau ou conhece a cidade sabe bem o que os festejos do carnaval significam. E não se trata apenas de significado – o que já deveria ser considerado -, mas de injeção de renda durante o período.

Para entender um pouco, basta imaginar a diferença gerada dum incremento de cerca de R$ 3 mil reais para famílias que ganham entre 1 e 2 salários por mês. O morador de Macau se prepara, cria expectativas o ano inteiro, para conseguir comprar uma televisão, fazer uma reforma em casa com os ganhos extraídos do carnaval. Não raro, ele aluga sua residência e monta comércio temporário ou presta serviço durante o período. Não se trata de exceção, mas de uma regra.

E mais: ainda aproveita o tempo para brincar e se divertir. Sim, pobre também gosta de festa. Ocorre que, ao contrário da classe média e demais membros dos estratos mais abastados, não tem a condição de bancar suas (poucas) atividades de lazer. Depende diretamente do Estado para tanto.

Mas a visão tacanha do Ministério Público, aliada ao medo de um prefeito recém empossado acuado pelo horizonte do escuro constante e possível uso de uniforme, fizeram com que tudo fosse por água abaixo. Enquanto para quem ganha para lá de R$ 30 mil reais, além da não tributada verba indenizatória do auxílio moradia, o carnaval será na Europa, com muitas fotos a serem postadas no facebook. Em Macau, quem já recebeu e gastou o dinheiro do aluguel de suas casas arranca os cabelos, pois não sabe como irá resolver a situação.

É interessante como a apresentação da boa nova sempre vem ornamentada de intenções magnânimas. Notoriamente, o carnaval de Macau não era exemplo de gestão adequada dos gastos públicos. Muita corrupção e surrupio de vil metal deram a tônica do evento. Graças ao MP, vale também registrar, a farra – não a carnavalesca – vinha sendo combatida. Porém, isto não é justificativa para acabar com o evento, pois, do contrário, faríamos o mesmo com as obras de infraestrutura, com os hospitais públicos, etc.

É isto mesmo: estou comparando o carnaval ao hospital público. A hipocrisia aplicada aos outros, em especial aos pobres, mas não seguida pelos seus contendores é a de que lazer é algo secundário. Só saúde é fundamental. Aos pobres, enxergados preconceituosamente como burros de carga ignorantes, resta o cuidado com o corpo. Talvez, para que a empregada doméstica e o jardineiro não faltem ao trabalho na segunda feira. Apenas uma minoria se arvora ao privilégio do zelo da alma. São os únicos que devem desopilar com um bom espumante.

O parquet, ao invés de colocar a faca nos peitos da prefeitura sob o singelo subterfúgio da “recomendação”, deveria ter dialogado com um estudante de economia ou de turismo para compreender a situação. Vale uma conta rápida só que com alguns adendos antes. Em 2015, a prefeitura de Macau gastou R$ 3 milhões de reais com a festa. Este valor, certamente, deveria ser revisto, inclusive com a ajuda do Ministério Público. A comilança custeada pela terra do sal para o lançamento do Carnaval de Macau nos melhores restaurantes de Natal entraria no catálogo das práticas extintas. Bandas que cobravam quase meio milhão de reais por um show de duas horas também. Mas rebolar a água da banheira com a criança dentro beira a irracionalidade.  A não ser que matar as pessoas se constitua na melhor forma de resolver o problema da corrupção.

Aos números. Macau tem em torno de 29 mil habitantes. Conforme estimativas de um estudo encomendado pela prefeitura em 2015, a cidade chega a cerca de 100 mil pessoas durante os quatro dias de festa, isto sem mencionar os que vão no chamado “bate e volta”. Cada folião deixa no município R$ 471 reais. Estamos falando, partindo de dados provavelmente vencidos pela inflação, de uma entrada direta de divisa de mais de R$ 33 milhões de reais. A população de Macau tem ou não razão para se sentir revoltada?

Fica evidente aqui a validade das duas críticas que a literatura especializada desfere contra o modelo de Ministério Público brasileiro. A instituição desempenha papel insofismável do ponto de vista dos benefícios trazidos. Vide, para ficar apenas num exemplo, a boa regulação feita pelo MP do Trabalho em todo o estado. O problema é quando resolve usar de sua força política para tomar a caneta do executivo. Isto com os escassos controles de uma corregedoria que, nem de longe, ilumina seus processos como o faz com os cidadãos comuns de fora e, ainda assim, caso o membro do MP se complique, acaba sendo julgado por um irmão do Conselho ao qual dividiu casa de veraneio, comeu camarão e passeou de buggy pelas praias num passado não muito distante. Só um tolo embeleza a crença na existência de pessoas mais honestas que outras. O que há são profissionais menos vigiados.

Se os membros do MP querem dizer como uma comunidade deve se comportar, sobre o que a economia deve girar… a eleição de 2016 está se avizinhando. Basta participar e vencer. Do contrário, ficar em seus lugares será o melhor negócio. Não para eles apenas, mas para a sociedade como um todo.

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Uma resposta para “Macau, o MP e o absurdo que representa o fim do Carnaval”

  1. marco antonio disse:

    AMIGO não tenho tanto estudo para combinar tantas palavras como o SR mas quem se importa ninguem não é mesmo assim é os politicos do nosso país então ja como dizia um personagem da escolinha do professor Raimundo “não venha com churumelas ” viva arealidade do país e da cidade de macau quem recebeu aluguel adiantado saia da casa durante o periodo do carnaval e entregue a quem alugou ninguem tem culpa pelo fato ocorrido ,use a sua inteleligencia para mostrar ao povo de macau que isto só servir para que se pense e saiba votar e não tocar o voto por uma cesta basica ,uma dentadura ou até mesmo por quatro dias de carnaval 4 dias de riquesa e 361 dias sem saude sem educação ,sem segurança, e sem o bem maior da vida que é a agua ,fiquei muito consternado com suas palavras mas não me convense talvez o que o sr disse tb não convensa muitos que tb sabe como funciona o sistema fale claro e objetivo para que até os mais humildes entenda sua mensagem e ai sim vc sabera até onde o sr conseguiu chegar com suas lindas e inteligentes palavras

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